O aumento global de superbactérias resistentes aos medicamentos – bactérias que evoluíram para resistir aos antibióticos – representa uma ameaça crescente à saúde pública, matando milhões anualmente. Numa corrida contra o tempo, os cientistas estão a explorar ambientes não convencionais em busca de novos compostos antibióticos. Um desses esforços é liderado por Cristina Dorador no deserto do Atacama, no Chile, o deserto não polar mais seco da Terra.
O Atacama: um habitat microbiano único
Durante anos, Dorador e sua equipe estudaram a vida microbiana extrema que prospera nas salinas do Atacama. Estes micróbios, adaptados a condições adversas, produzem compostos únicos que podem ser a chave para novos antibióticos. A lógica é que, se os organismos puderem sobreviver num tal ambiente, poderão ter desenvolvido mecanismos de defesa – armas químicas – que poderiam ser reaproveitados para a medicina humana.
A urgência da descoberta de antibióticos
O surgimento de superbactérias é impulsionado pelo uso excessivo e indevido de antibióticos. As bactérias evoluem rapidamente, tornando os medicamentos existentes ineficazes. Isto faz com que os sistemas de saúde procurem novas soluções. Encontrar novos antibióticos não é apenas um desafio científico; é um imperativo de saúde pública.
Um ecossistema delicado sob pressão
A investigação de Dorador também levanta preocupações sobre o impacto ambiental da mineração de lítio no Atacama. A região é uma importante fonte de lítio, um componente crítico nas baterias de veículos elétricos. No entanto, as operações de mineração perturbam o frágil ecossistema e ameaçam as comunidades indígenas que dependem destas terras. A questão é se a procura de soluções energéticas limpas prejudica a biodiversidade e a preservação cultural.
“O Atacama é um tesouro de diversidade microbiana, mas também está sob crescente pressão da atividade industrial. Equilibrar inovação com sustentabilidade é o desafio”, afirmou Dorador.
A procura de novos antibióticos no Atacama sublinha a interligação entre ciência, saúde pública e responsabilidade ambiental. O potencial oculto do deserto pode oferecer uma tábua de salvação contra as superbactérias, mas apenas se o seu delicado ecossistema for protegido.


























